Crônicas de Moçambique 4 – MUDANÇA DE MENTE
“Seu bisavô era pobre; seu avô era pobre, seu pai é pobre e você vai ser sempre pobre”. A sentença foi dita pelo pai de uma das nossas alunas do curso do Instituto Alvo que eu estava ministrando no Dondo. A ideia era clara: pessoas carentes de recursos estão fadadas a essa sina inescapável. Estão presas a uma espécie de maldição ancestral, da qual não podem se livrar.
Como foi encorajador ouvir a resposta que ela deu ao pai. Estudante universitária, ela pretende romper o ciclo. Tem planos. Tem visão. Olha para frente, não para trás. Está disposta a lutar e fazer o que estiver ao seu alcance para ter uma vida melhor. Foi emocionante ver que algumas dicas e sugestões compartilhadas estavam a cair em solo fértil. Há esperança de um futuro diferente.
Qual é a maior necessidade de uma comunidade com poucos recursos? A resposta a esta pergunta, óbvia para quem anseia ajudar, vai definir nossa estratégia para abordá-la. No primeiro impulso, pensamos que podemos resolver o problema do mundo. Mas há carências de todos os tipos e de todos os lados, em maior número do que a nossa capacidade de responder. Desde coisas básicas a coisas mais profundas. Sem um rumo bem definido, a tendência é a gente se perder e desistir.
Saio de Moçambique cada vez fico mais convencido de que a maior contribuição que se pode fazer a um povo é ajudá-lo a abrir janelas no coração, na alma e na mente para que consigam ver além. É promover uma mudança de mentalidade.
Creio que o Evangelho muda nossa história justamente na medida em que nos dá uma nova maneira de ver a vida. Nossa cosmovisão é alterada de maneira tão radical que, em Cristo, aprendemos a ver nosso passado como uma rampa de impulso para o futuro, não como uma pedra de chumbo que nos prende ao mesmo lugar.
Aprendemos a assumir nossas responsabilidades, ao invés de colocá-las sobre nossos antepassados e semelhantes. Entendemos nosso papel de viver para a glória de Deus, enquanto usamos nossos bens e talentos para servir aos outros e, assim, melhorar a vida das nossas comunidades.
Os cristãos que fazem a diferença são aqueles que têm uma mente renovada por Cristo nos lugares celestiais, enquanto mantém os pés no chão poeirento de um mundo real, com suas mazelas e carências.
Quero ser um deles. E você?