Crônicas de Moçambique 2 – VEJA O MELHOR
Há muitos olhares que se pode ter em um país estrangeiro.
O olhar do turista é um deles. Você quer tirar a melhor foto, procura o melhor hotel, os restaurantes mais badalados. Se orçamento não permitir extravagâncias, pelo menos que as lembranças sejam inesquecíveis.
O olhar do explorador é outro. É quando se vai a um lugar esperando tão somente tirar dali algum proveito. É a ideia colonizadora, de quem vê coisas, pessoas e recursos apenas como algo a se colocar no bolso.
O olhar do curioso pode estar presente. É aquele que não quer explorar nem conhecer. Só quer mesmo especular. Pergunta isso, pergunta aquilo. Pede preço de tudo, mas não leva nada. Metido a sabichão, lê meia dúzia de sites e acha que pode discutir a História. Meio sinistro.
O olhar do “coitadista” também é frequente. É o sujeito que gosta de explorar a miséria, de achar tudo uma lástima. É o tipo de gente que tira foto do monte de lixo na calçada, mas não consegue ver um prédio histórico e sua arquitetura na outra esquina.
Mas pode haver também o olhar do servo. Daquele que não se vê (porque sabe que não é) melhor do que ninguém. Se tem um espírito de servir, ele há de levá-lo por onde for. Esteja a turismo, a trabalho ou em missão, é o coração que define seu olhar.
Você vai olhar as pessoas e não seu estado. Vai procurar a vida, não a miséria. Vai amar o pobre, não a pobreza. Vai ver o belo em lugares e situações inusitadas. Vai se surpreender e aprender lições marcantes em um olhar, um abraço, um gesto, um movimento, uma dança, um aperto de mão.
E vai acabar o dia olhando para dentro de si mesmo, para se contemplar no espelho da alma e dizer: “ainda nem comecei a ser o que deveria”.
Foto: Esdras Oliveira