CRÔNICAS DA ÚLTIMA SEMANA (III) – 12 HOMENS E UM SEGREDO
Era Páscoa. Os discípulos de Jesus não tinham percebido, mas aquela seria a última celebração da data que fariam com o Mestre. O clima andava tenso. Os acontecimentos das próximas horas mudariam a rumo da história da humanidade.
O espaço tinha sido cedido por um desconhecido para que o grupo celebrasse a páscoa. Mobília pronta, mesa posta, água, bacia e toalhas. Não havia escravos na casa para lavar os pés dos comensais.
Todos esperam o momento em que o Mestre começaria mais um de seus discursos, falando aos corações deles sobre coisas profundas e eternas. Para surpresa de todos, Ele se levanta. Tira a veste de cima, enrola-se numa toalha. Sob os olhares espantados de doze pares de olhos, caminha até uma talha. Derrama água em uma bacia. Chega-se aos pés empoeirados do primeiro discípulo. Curva-se. Mete a mão na água e lava-os. Enxuga com a toalha. Vai para o próximo. O silêncio é palpável. Gostariam de enfiar-se num alçapão e sumir dali.
Nenhum deles se apresentou para o trabalho. O serviço sujo ficou para o Senhor e Mestre. João, o apóstolo do amor, não “sentiu no coração”. Mateus, o ex-publicano, não quis ser mal compreendido por Simão Zelote e vice-versa. André já tinha feito muito de levar Pedro ao Messias. Tomé não acreditava no que via e Filipe ainda estava procurando o Pai. Bartolomeu, Tadeu e Tiago tinham ficado de boca fechada até ali e assim continuaram.
Os doze homens ainda não tinham aprendido o segredo do sucesso: servir. Disseram que estavam dispostos a ir até a morte pelo Senhor. Mas ainda não estavam dispostos sequer a lavar os pés uns dos outros. Nem mesmo os pés do Salvador.
“Quem ser grande entre vós, seja esse o que vos sirva.” Servir era uma bênção, não um castigo. Era uma missão de vida, não um fardo a ser evitado a todo custo. Enquanto disputavam o lugar principal, Jesus gastava sua energia assumindo o papel de Servo. “O Filho do homem veio para servir e dar sua vida em resgate de muitos”.
Uma vida de serviço é o único tipo de vida que realmente vale a pena. Ainda temos tempo de aprender a lição.