BLOG DO ALVO

Pais ou Igreja: quem é responsável por levar meus filhos a Deus

Nossa resposta a essa pergunta costuma ser baseada em uma polarização cada vez mais comum. Aquela coisa meio binária, 0 ou 1, um ou outro. Com muita frequência nos afastamos do equilíbrio que nos permite enxergar que, em muitos casos, a resposta não é UM OU OUTRO, mas UM E OUTRO. É o caso aqui.

A frase é fácil e parece irrefutável. Os pais são os responsáveis por ensinar a Palavra de Deus. Ponto final. Será?

Claro que os pais não podem se omitir no processo. Efésios 6:4 é explícito: “os pais devem criar os filhos segundo a instrução e o conselho do Senhor”. Eles não podem pensar e agir como se fossem apenas responsáveis por prover o sustento, a alimentação, escola, lazer, oportunidades, exatamente como qualquer pai do sistema, deixando o que se chama de “questões espirituais” para a igreja ou quem quer que seja.

Mas espera. Você acha que essa responsabilidade não é compartilhada com a comunidade de fé? Então volte um pouquinho do tempo e veja o que Deus ensinou ao povo de Israel. Você tem Deuteronômio 6:4-9, que é um chamado claro à responsabilidade dos pais, mas tem também Deuteronômio 31:12, que explicitamente ordena que o povo se reunisse nas festas (incluindo as crianças) para ouvirem a leitura da Lei que seria feita na congregação. Os levitas eram uma tribo separada por Deus para ensinar a Lei ao povo. Eles viviam em cidades espalhadas por todo o território de Israel, exatamente para ensinar ao povo (incluindo pais e filhos) a temerem a Deus (Dt 33 9,10). Você encontra mais repreensões de Deus aos levitas por não terem feito seu trabalho do que aos pais (veja por exemplo Malaquias 2:5-9).

Percebeu a ideia? Pais e levitas (líderes espirituais da comunidade) eram CORRESPONSÁVEIS pela formação espiritual dos filhos. Cada um na sua função, cada um a seu tempo, cada um com sua parcela de comprometimento.

Na igreja isso não mudou. Se você é um cristão sério, certamente concorda com a ideia de que não é possível ser crente em casa, isolado da comunidade. Precisamos desse convívio para nossa caminhada. Isso não inclui a educação dos filhos no caminho de Deus? Se não, para que precisamos da igreja? Paulo ensinou que “advertimos e ensinamos a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Colossenses 1:28). “Todo homem” envolve filhos e filhas, incluindo aqueles cujas famílias não são cristãs.

O ponto aqui é: não cabe um jogo de empurra. Pais tentam terceirizar sua responsabilidade para a igreja. A igreja, por sua vez, tira o corpo fora e devolve a bola para os pais. O plano de Deus é de uma responsabilidade dupla e conjunta. Igreja e família são parceiros nessa construção. Assim como pais não são somente provedores, mas educadores, a igreja não pode se eximir de sua responsabilidade de levar os filhos da comunidade a amar a Deus.

E não é só uma questão de ter um ministério infantil bem estruturado. Vai muito além disso. Envolve a preparação adequada dos pais para que saibam enfrentar com a cosmovisão bíblica. A igreja não pode fechar os olhos para as pautas que estão nas manchetes, temas que nem eram mencionados quando éramos jovens. Ao contrário, precisamos nos debruçar juntos sobre eles, de Bíblia aberta, para encontrar as respostas que nossos filhos já estão recebendo dos professores, da Netflix e dos influencers.

Não dá mais para achar que 40 minutos de EBD ou sermões resolvem o problema. Gerar conteúdo é parte da solução. A outra é relacionamento. O discipulado individual (que alguns ainda insistem em tratar como se fosse uma “modinha” não pode mais ser desprezado.

Somos todos responsáveis. Vamos aceitar esse desafio juntos?