MEMÓRIAS DE UM CRÍTICO
Se eu tivesse sido um missionário em terra estrangeira, teria levado apenas o Evangelho. Nada da minha cultura. Nem música, nem valores nem nada. Só o Evangelho.
Aliás, nem sei se teria ido para outro país, com tanta gente entre meus patrícios que precisa ser evangelizada ainda. Para que gastar dinheiro com missões no exterior, quando se pode fazer tudo em reais?
Se eu tivesse sido o diretor de uma agência missionária, jamais teria permitido que se falassem de necessidades para os outros. Teria vivido apenas de acordo com a fé de George Muller.
Se eu tivesse sido um pastor, daria muito mais atenção às pessoas. Não seria um pastor de gabinete, porque pastor precisa sentir cheiro de ovelha.
Se eu tivesse sido um professor, teria dado aulas muito mais dinâmicas, práticas e envolventes. Ninguém sentiria sono nas minhas aulas.
Mas resolvi ser apenas um crítico. Descobri rapidamente que falar mal é muito mais fácil do que fazer bem. Passar a receita é muito mais fácil do que fazer o bolo. Atacar é muito mais fácil do que construir.
Então, passei a vida falando o que os outros deviam fazer. Esse foi o meu trabalho. Por isso, olhando para trás, percebo quanta coisa DEVERIA ter sido feito por ALGUÉM. O mundo faltou à minha aula. Se tivessem seguido meus conselhos, tudo teria sido melhor.
O curioso é que, mesmo agora quando mal tenho forças para escrever uma carta, percebo que ainda continuo falando, falando e falando. E percebo que fiz história: há muito mais gente disposta a seguir nas minhas pisadas do que fazer alguma coisa.
Assinado,
O CRÍTICO.
(uma homenagem irônica a tantos amigos abnegados que servem fielmente, mesmo em meio a enxurradas de críticas de quem não tem ideia do que é servir fielmente)