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O filho perdido que ficou

Se outro foi o pródigo, ele era o prodígio. O “certinho” da família, o que tocava os negócios. Um sucessor perfeito. Ele não tinha tempo nem para um churrasco com os amigos: tinha foco, disciplina monástica e visão de futuro. Pelo menos era o que todo mundo pensava.

Nada como o tempo para revelar os corações. Quando chegou a hora de mostrar a virtude das virtudes, a capacidade de sentir compaixão e estender a mão, ele mostrou que não era assim tão virtuoso.

Sua dedicação era apenas para ganhar o favor do pai. Por que ele nunca pediu um cabrito para comemorar com seus amigos? Era filho, mas se via como escravo. Ele nunca entendeu a graça do pai. Para ele, a bênção tinha etiqueta de preço.

Não havia espaço em seu coração duro para dar uma nova chance para seu irmão, a quem ele chamou, inclusive de “esse seu filho”. Ele nunca entendeu a misericórdia do pai. Para ele, se errou uma vez, acabou. O que teria sido dele quando seus próprios erros bateram à porta?

Ao invés de abraçar o irmão, preferiu cobrar do pai. Ele não via motivos para o abraço apertado, para o beijo de perdão, muito menos para as roupas novas e o anel no dedo. Festa, então, nem pensar. Ele nunca entendeu o amor do pai.

Ainda hoje há quem pense que só estão perdidos aqueles que se enfiam no pecado até o pescoço, vivendo fora de qualquer padrão moral. Não entenderam ainda que o pecado começa no coração, não no comportamento. É por isso que tanta gente se acha no direito de ser enfatuada, cheia de si, orgulhosa do seu “serviço dedicado”, sua “obediência fiel” ou sua “doutrina impecável”

Não aprenderam ainda aquilo que Jesus considerou “os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé”.

Mais vale um filho perdido que volta arrependido do que um que fica sem arrependimento nenhum, porque se acha justo aos seus próprios olhos. O primeiro é o que encontra misericórdia e volta justificado para casa.